quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ted Hughes e Sylvia Plath: a vida naufragando

Quando Ted Hughes e Sylvia Plath se casaram, em 16 de Junho de 1956, a vida em comum parecia apenas o início de uma deslumbrante e fértil convivência. Inteligentes, jovens, (bons) poetas, tudo conspirava para qualquer coisa próxima de um futuro magnífico.

Mas havia a vida e seus fantasmas insistindo em existir. E eles logo dariam as caras naquela promessa de deslumbre. Ted, Inglês típico, sem grandes aspirações a não ser lecionar e escrever seus poemas lúgubres. Gabava-se de ter apenas algumas poucas peças de roupa no armário. Não precisava de muita coisa além de uma calça de brim e um velho e surrado paletó de tweed.

Sylvia, obcecada por uma carreira que levasse seu nome para além do Atlântico Norte, em primeiro lugar, e depois, para o outro lado do Canal da Mancha. Influenciada pela mãe, viva, que a queria famosa e rica; e pelo espectro do pai, morto.  Ela tinha apenas oito anos quando ele partiu. O "ilustre pai morto" e uma certa "americanidade ansiosa" de Sylvia Plath, foram os principais "fantasmas" na vida dos poetas. 

"Massacrada por seus padrões de excelência e ambiciosa além da conta, ela (Sylvia) seria prisioneira de uma ansiedade sem cura, escrava do seu medo de errar, vítima inevitável do terror de não corresponder às expectativas de que se tornara objeto", define Leonardo Fróes na nota introdutória ao excelente "Cartas de Aniversário", obra póstuma de Ted Hughes. 

Após sete anos de casamento, muitas brigas, vários poemas e uma filha, Sylvia suicidou-se ligando o gás e enfiando a cabeça no forno de um fogão velho. Grupos de feministas, defensoras de uma moral banguela, vieram em defesa da memória de Sylvia, acusando Ted de assassino, marido infiel, dentre outras tolices. Os ataques recrudesceram, sobretudo depois do suicídio de Assia Wevill, mulher com a qual Ted se casara após a morte de Sylvia, alguns anos depois.

Durante todos esses anos, Ted Hughes silenciou. Em 98, ao descobrir um câncer, Ted enviou para publicação uma coletânea de poemas intitulada "Cartas de Aniversário". No livro, em poemas magistrais, Ted relata as muitas dores e algumas delícias no casamento com Sylvia. Em um dos poemas, Ted fala sobre a obsessão pelo suicídio (Sylvia já havia tentado se matar em 1953): "...não entendia ainda/ que a morte a debater-se de um lado para o outro/ dentro de sua cabeça, tinha de pousar em algum lugar."

Em outro poema, Ted relata a experiência do casal em consultar espíritos através da "brincadeira do copo". A certa altura, Sylvia pergunta ao espírito se eles serão famosos, no que o espírito responde: "A fama virá. Especialmente para você./ A fama é inevitável. E quando ela vier/ você já terá pago por ela com a sua felicidade,/ o seu marido e a sua vida."

Em processo de naufrágio, por muito pouco Sylvia não levou Ted. Não há saída para os que se apoiam nos naufragados. Não há poesia que nos ajude a libertar um ser "naufragando-se".



CARTAS DE ANIVERSÁRIO
Ted Hughes
Ed. Record
399 pg
R$ 9,90

http://bit.ly/o1z2DC