Ó Van Gogh, cortei a tua orelha
e assei a tua mão. Quis o destino
que eu andasse contigo, de parelha,
por isso entrei no rol dos assassinos.
Não sei pintar, mas ouço a cor vermelha,
ouço o tom do amarelo desatino,
ouço o traço de fogo da centelha
do teu pincel e vejo o som dos sinos.
Tenho os teus olhos nos ouvidos. Só
dissequei tua vida até o pó
para que o pó voltasse a ser caminho.
Depois que dei o tiro no teu peito,
vivo de vinho e sangue satisfeito:
ébrio de sangue e bêbado de vinho.
(Marcus Accioly. In: Daguerreótipos)
Espaço destinado a conversas solitárias sobre literatura, cinema, música e bares sombrios.
terça-feira, 24 de maio de 2011
O amor, este belo e cruel paradoxo
O TORRÃO E O SEIXO
"O amor jamais a si quer contentar,
não tem cuidado algum com o que é seu;
sacrifica por outro o bem-estar,
e, a despeito do inferno, erige um céu."
Esse era o canto de um torrão de terra,
pisado pelas patas da boiada;
mas um seixo, nas águas do regato,
modulava esta métrica adequada:
"O amor somente a si quer contentar,
atar alguém ao próprio gozo eterno,
sorri quando o outro perde o bem-estar,
e, a despeito do céu, ergue um inferno."
William Blake (1757-1827)
*A ilustração desse post foi feita pelo próprio Blake, para a primeira edição do seu "The marriage of heaven and hell".
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