Ó Van Gogh, cortei a tua orelha
e assei a tua mão. Quis o destino
que eu andasse contigo, de parelha,
por isso entrei no rol dos assassinos.
Não sei pintar, mas ouço a cor vermelha,
ouço o tom do amarelo desatino,
ouço o traço de fogo da centelha
do teu pincel e vejo o som dos sinos.
Tenho os teus olhos nos ouvidos. Só
dissequei tua vida até o pó
para que o pó voltasse a ser caminho.
Depois que dei o tiro no teu peito,
vivo de vinho e sangue satisfeito:
ébrio de sangue e bêbado de vinho.
(Marcus Accioly. In: Daguerreótipos)
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