
Trótsky, além de grande estrategista e teórico da revolução, era um amante das artes, sobretudo da literatura. É dele, em parceria com o poeta Francês André Breton (o meu predileto), um dos mais instigantes estudos sobre o surrealismo. O velho sempre se manteve firme na defesa dos princípios da revolução, mas nunca apagou a chama libertária que ardia em seu estômago como uma úlcera. Escrevi o poema abaixo após a leitura de uma de suas incontáveis biografias. Mais especificamente, o volume que relata a sua luta contra Stálin e o posterior expurgo.
LEON DAVIDOVICH BRONSTEIN
Eu poderia escrever-te versos, meu caro Leon.
Mas toda a grandeza de uma epopéia seria mentirosa.
Os mujiques saberiam. Os cossacos galopariam pelas estepes
arrastando o teu busto em desgraça.
Em meus sonhos com Lênin há sempre uma multidão de mortos a te seguir.
Stálin deixou-nos um legado de perdas, o medo como ciência.
O silêncio dos exilados, as sombras na janela...
Os mortos dormem agora sobre uma ravina de flores.
Já não ouso escrever a elegia que mereces, Leon.
Um epitáfio doce como uma náusea que procria.Queria apenas saber do teu espírito velho de junco,
musgo de carvalhos centenários.
Dorme agora, Leon.
Este sono, ainda que tardio,talvez restitua o teu lugar nas coisas.
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