terça-feira, 17 de julho de 2012

Trótsky, esse grande espírito da floresta

                                                               Sempre estive mais próximo de Trótsky do que de Lênin, Stálin & Cia. A minha linhagem, e acho, presunçosamente, que a de Maiakóvski também, sempre foi a de Trótsky. Mesmo comandando o colossal exército vermelho durante a guerra civil, o velho (ainda que jovem, à época), nunca se deixou levar pela tentação ditatorial de assumir as rédeas da revolução - infelizmente, com efeito nefasto para centenas de milhares de pessoas, Stálin as assumiu depois.


Trótsky, além de grande estrategista e teórico da revolução, era um amante das artes, sobretudo da literatura. É dele, em parceria com o poeta Francês André Breton (o meu predileto), um dos mais instigantes estudos sobre o surrealismo. O velho sempre se manteve firme na defesa dos princípios da revolução, mas nunca apagou a chama libertária que ardia em seu estômago como uma úlcera. Escrevi o poema abaixo após a leitura de uma de suas incontáveis biografias. Mais especificamente, o volume que relata a sua luta contra Stálin e o posterior expurgo.






LEON DAVIDOVICH BRONSTEIN




Eu poderia escrever-te versos, meu caro Leon.
Mas toda a grandeza de uma epopéia seria mentirosa.


Os mujiques saberiam. Os cossacos galopariam pelas estepes
arrastando o teu busto em desgraça.


Em meus sonhos com Lênin há sempre uma multidão de mortos a te seguir.


Stálin deixou-nos um legado de perdas, o medo como ciência.
O silêncio dos exilados, as sombras na janela...


Os mortos dormem agora sobre uma ravina de flores.


Já não ouso escrever a elegia que mereces, Leon.
Um epitáfio doce como uma náusea que procria.
Queria apenas saber do teu espírito velho de junco,
musgo de carvalhos centenários.


Dorme agora, Leon.
Este sono, ainda que tardio,
talvez restitua o teu lugar nas coisas. 

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