quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Oscar Wilde ou "O sedutor que apodrece"

Escrevi este poema em 2005, após reler "A balada do cárcere de Reading", de Oscar Wilde. O livro foi publicado em Londres, a 13 de Fevereiro de 1898, pela livraria Leonard Smithers, após ter recusada sua publicação por diversas outras editoras.

Depois de um conturbado e ruidoso processo judicial por sodomia, e suas nefastas reverberações, Wilde foi condenado à prisão em Abril de 1895. Condenado pela hipocrisia moralista da "Era Vitoriana", ele foi trancafiado, primeiro na prisão de Holloway, passando depois por Newgate, Reading e, por fim, Pentoville. Em Reading, Wilde ficou impressionado com os olhos tristes de um soldado da Real Guarda Montada, batalhão de elite do exército Inglês, condenado à forca pelo assassinato de sua jovem mulher.

Fico imaginando o olhar de quem sabe da proximidade da morte. Seus passos indecisos rumo à forca.

Diferente de Wilde, nunca tive essa oportunidade. Mas imagino-a. E para esse infeliz, tão distante e tão próximo em seu infortúnio, escrevi este poema:

Ainda que o cadafalso
seja apenas leve sombra
por entre as cerejeiras,
esticai a corda,
áspera, ao extremo.

Ninfa no poço
úmido
do teu pescoço.
Acordai os velames.
As tábuas a ranger
rompendo o silêncio dos girassóis.
Doce lira
que se expande
quando esperavas tempestade.

Ó enforcado de todas as horas,
o teu hálito degredado
caminhará
por ilhas bruscas
de deitar demônios.

Segue o ruído de tua alma,
sopro do que és.
Não obstante, seguirás
por um caminho de medrar lilases.

Ainda que sambemos
sobre o teu esquecimento.

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